terça-feira, 15 de abril de 2014

A Economia Argentina, de Aldo Ferrer

A Construção de uma Dependência


FERRER, Aldo. La Economía Argentina: desde sus orígenes hasta principios del siglo XXI. Com a colaboração de Marcelo Rougier. 4ª ed. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2010. 484p.

No Princípio era a Expansão Comercial Europeia, o papel dinâmico das rotas mercantis. Depois veio a Primeira Ordem Mundial, um sistema de produção, distribuição e apropriação de riquezas que se espalhava por todo o mundo – com a Europa como centro. Mais terras e mais povos entraram nesse jogo, de forma voluntária ou não. Uma dessas, na ponta da América do Sul, ganhou futuramente o nome de Argentina – que sempre viveria entre a dependência de centros mais dinâmicos no exterior e a luta para sair de tal condição.

O economista argentino Aldo Ferrer tem história: junto com o brasileiro Chico de Oliveira, talvez seja o último representante do chamado pensamento cepalino, uma corrente de economistas latino-americanos que nos anos 40 e 50 decidiu que era a hora da América Latina virar seu eterno jogo – deixar de ser mera provedora de uns poucos produtos primários e partir para a autonomia e o progresso. Seus pioneiros congregavam-se na Cepal, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe da ONU, e seu líder foi o também argentino Raúl Prebisch, seguido de perto pelo brasileiro Celso Furtado. Que está presente logo na introdução do livro: o autor afirma que o enfoque que utiliza foi inspirado no que Celso Furtado utilizou na sua Formação Econômica do Brasil.

O autor começa explanando o surgimento do que denomina de economias regionais de subsistência dentro do território atualmente ocupado pela Argentina. O Império Colonial Espanhol tinha como centro as regiões produtoras de minério. As rotas comerciais dentro dele geraram uma frouxa especialização produtiva em regiões como Mendoza, Cuyo ou mesmo Buenos Aires.

O livro ganha em dinamismo quando explica a transformação desta sonolenta economia marginal em uma plenamente integrada na divisão internacional de produção – de uma maneira dependente dos centros europeus. Isso ocorreu quando a demanda de alguns produtos primários pela Europa se juntou a meios de transportes mais seguros e à existência de um excesso populacional na Europa – fatores que se conjugaram para propulsionar a ocupação das férteis terras de origem vulcânica da província de Buenos Aires e seu entorno para produzir lã, trigo e carne para corpos e bocas europeias.

Por algum tempo os resultados ultrapassaram expectativas: a Argentina ostentava alta renda per capita, prédios parisienses na capital e uma educação pública forte. No entanto a prosperidade tinha prazo fixo – as principais decisões – de investimento e demanda - estavam fora do controle do país.

Como de certa forma continuaram: o autor percorre a experiência industrializante peronista, os graves problemas econômicos das décadas de 1960 a 1980 e o desmonte do período de Menem sempre enfatizando as dificuldades de uma economia periférica, malgrado mais ou menos breves períodos de bonança.

A Argentina espelha o Brasil – e vice-versa. Conhecê-la é um pouco nos conhecer. É algo que nos fica desta obra.