sábado, 16 de janeiro de 2016

O Nascimento do Cristianismo, de John Dominic Crossan

Sobre Impérios e Filhos de Deus

CROSSAN, John Dominic. The Birth of Christianity: discovering what happened in the years immediately after the execution of Jesus.  Nova Iorque : HarperSanFrancisco, 1998. 653p.

The BRth of Christianity - John Dominic Crossan
O mundo no qual viviam os primeiros cristãos não separava o Estado e a Igreja, o divino e o humano, o eterno e o temporal, o Céu e o Hades. Pessoas alegavam parentesco com deuses ou ter visto mortos voltarem e ninguém se espantava com isso. Os primeiros cristãos afirmavam que Jesus era filho de Deus e ressuscitara. Mas não era isso que o tornava especial. Se você pudesse escolher seu Deus, quem você escolheria? Augusto, o Imperador Romano, filho do deus Apolo, apoiado por imensa riqueza e poderio militar, ou Jesus, um camponês judeu pobre o suficiente para nascer no estábulo de outra pessoa? Faça sua escolha – é o apelo do autor.

O biblista e historiador irlandês John Dominic Crossan combina uma erudição quase pantagruélica com um senso de humor que explicam o sucesso de seus escritos em busca do Jesus Histórico. Sucesso e controvérsia: este ex-padre casado tem sofrido acusações até de ser ateu. Neste fornido volume ele continua seu percurso de caracterização de Jesus como um camponês mediterrâneo. Jesus teve sua vida pública e morreu nos anos 20 do primeiro século, e todos os escritos tratando disso datam de épocas posteriores. Paulo escreveu suas epístolas nos anos cinquenta, e disso há escritos da própria época. O que aconteceu nesses primeiros trinta anos do Cristianismo – é a questão que o livro pretende decifrar.

Que leva a outra pergunta: como fazer história na ausência de documentos escritos. O autor apela para a metodologia. De fato, a questão do método perpassa todo o volume. Após fazer uma recensão dos métodos utilizados nos últimos estudos da vida de Cristo, Crossan apresenta o seu próprio, a Antropologia Transcultural.

Baseado neste método o autor transporta o leitor para um ambiente muito específico – a Judeia do tempo do Rei Herodes Antipas. O Império Romano trouxera urbanização e comercialização, e essas duas novidades significaram desastre para os camponeses pobres. O judaísmo tradicional adorava um Deus de Justiça – o protetor das viúvas e dos órfãos, como não cessavam de trombetear os profetas. A nova ordem transformava a terra em objeto de comércio, e pressionava os camponeses ao pagamento de tributos para sustentar as novas cidades que pululavam. O tempo nada tinha de plácido – amontoavam-se os famintos.

Nessa época e lugar dois movimentos surgiram, liderados por profetas itinerantes: o Movimento do Batismo, de João Batista, e Movimento do Reino de Deus, de Jesus. Este pregava um Deus diferente dos da época: o Deus não-violento de um Reino não-violento, um Deus de resistência não-violenta ao mal estrutural do Império Romano e ao mal individual que proliferava dentro deste.


O Jesus de Crossan não flutua sobre a Terra. Nem sequer a visitou para viver entre os homens. Ele é homem, inteiramente: sofre a opressão do tempo e procura solução para ele. Trata-se de ponto de vista não isento de opositores. De qualquer forma é visão erudita e fecunda para tentar decifrar o enigma Jesus. 

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